A síntese kantiana e a clínica do um-a-um.
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A psicanálise busca trata o “um a um”, mesmo que haja características gerais que um determinado tipo de desordem possa ter, levando em consideração o indivíduo e seu modo particular de vivencia-la.
Kant propôs que o sujeito possui duas fontes de conhecimento: a sensibilidade (intuição) e o entendimento (conceitos). A sensibilidade diz respeito ao modo como somos afetados pelos objetos e o entendimento é o que dá sentido a matéria do fenômeno e faz com que o objeto pertença ao campo do cognoscível, ou seja, o que é passível de ser conhecido. Na síntese Kantiana entre o racionalismo e o empirismo diz que, sem o conteúdo da experiência, dados da intuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo), por outro lado, sem os conceitos, eles não têm nenhum sentido para nós (empirismo). Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento, nenhum conteúdo seria conteúdo seria pensado. Para Kant não é possível conhecer a realidade pura, conhecemos apenas os fenômenos.
A síntese kantiana, baseada na filosofia de Immanuel Kant, apresenta uma abordagem interessante e valiosa para pensar a clínica do um-a-um em saúde mental. Interessante por apontar uma concepção que inclui as noções de Modernidade, Contemporaneidade, Empirismo e Racionalismo. A Modernidade (1453-1789) marcada pelo nascimento do modo capitalista de produção; uma Contemporaneidade (Revolução Francesa, 1789) que valorizava a razão em detrimento da religiosidade; um Empirismo (Galileu Galilei, 1564-1642) caracterizado pela interpretação e leitura do fenômeno apenas pela experiência e o Racionalismo, preconizando que a dúvida é o primeiro passo para chegar ao conhecimento e a razão como forma principal de compreensão do mundo e verificação das evidências, criando o pensamento científico.
Valiosa por Kant (1724-1804) propor uma compreensão inicial do conceito de evolução que será mais tarde formulada por Charles Darwin (1809-1882), podendo inferir que nesta época, à medida que os seres evoluem, criam novas formas de conhecer a si mesmo, a realidade e o mundo. Neste sentido, a síntese de Immanuel Kant contribui para pensar a clínica do um-a-um em saúde mental ao responder à pergunta: como é possível o conhecimento?
Sua resposta propõe que a filosofia deixe de ser uma ontologia que conjectura formas voltadas para entendimento e a organização das coisas, seres, mundo, realidade e próprio conhecimento (imanente), transformando-se em filosofia transcendental. Transcendente a partir de um conhecimento que “se preocupa menos dos objetos do que do modo de os conhecer, na medida em que este deve ser possível a priori” (KANT, 2001, p. 53), ou seja, ao lado do entendimento de uma faculdade intuitiva (razão), caminha o acesso aos dados imediatos, multissensorial, apresentando um novo mundo, a saber: sensível.
Este princípio discutido nos capítulos "Dedução Transcendental dos Conceitos Puros do Entendimento", “Estética Transcendental” e “Analogia dos Conceitos de Experiência” (KANT, 2001), possibilitam os terapeutas entenderem os fenômenos trazidos pelos sujeitos durantes os atendimentos clínicos por meio da sensibilidade (intuição) e do entendimento (conceitos) a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo.
Portanto, a razão e a experiência constituem uma relação terapêutica transcendental, que no âmbito da saúde mental, implica o terapeuta em reconhecer e respeitar a autonomia do paciente, envolvendo-o ativamente nas decisões relacionadas ao seu tratamento, validando suas experiências, tratando-as de forma individualizada, nunca como mero meios para construção de um tratamento.
A aplicação destes princípios contribui para a equidade, ética e justiça na clínica do um-a-um, possibilitando aos usuários a entenderem como são afetados pelos objetos e marcados pela experiência, encorajando-os a explora alternativas, avaliar as consequências e tomar decisões pautadas em suas limitações e possibilidades dentro do contexto social em que vive.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. Disponível em: https://joaocamillopenna.files.wordpress.com/2013/09/kant-critica-da-razao-pura.pdf. Acesso em: 04 jun. 2023.
Joubert Karpeggiane
Psicólogo - CRP 04/70215
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